A comunicação social engana-nos !


Em Portugal, nunca como hoje a comunicação social se constituiu como tão manipuladora e mentirosa.
No regime fascista havia censura e alguns órgãos de comunicação, como o 'Diário da Manhã', eram assumidamente mentirosos. Todavia, muitos jornalistas  destacavam-se pela sua resistência à mentira e pelo seu afã de transmitirem uma informação o mais rigorosa possível.
Os cidadãos sabiam que, por princípio, deviam precaver-se contra o enviesamento informativo que a ditadura impunha.
Globalmente, mesmo em pleno fascismo, os cidadãos tinham melhores condições para se defenderem da manipulação informativa do sistema.
Hoje quase toda a comunicação social está dominada pelos grande interesses económicos, pela anestesia intelectual de demasiados jornalistas e pelo enorme aprimoramento das técnicas de manipulação . O que prevalece é a falsidade e, sobretudo, a constante manipulação ao serviço do 'pensamento único' de cariz neoliberal.
Ler a generalidade dos jornais ou assistir às televisões é hoje um penoso exercício de resistência à manipulação que se exerce de múltiplas e cada vez mais sofisticadas maneiras.

Manuel Carvalho não é um jornalista qualquer. É o diretor do 'Público' (que é privado, pertença da SONAE) e um dos opinólogos de serviço nas televisões sobretudo na RTP.
A aparente convicção como mente acerca do golpe na Bolívia não é um equívoco. É a forma mais rasteira (mas eficaz) de fazer passar a mentira fundamental que o imperialismo quer veicular para 'justificar' o golpe meticulosamente preparado para afastar (e, ao que tudo indica, assassinar) um Presidente eleito democraticamente e respeitado pelo desenvolvimento que promoveu na Bolívia.

Diz Manuel Carvalho enquanto comentarista da RTP que «...os observadores internacionais ficaram absolutamente convencidos que tinha havido uma 'chapelada', uma fraude em larga escala e é nessa sequência que Evo Morales tem que sair»

Manuel Carvalho mente, serve ao público a narrativa que lhe encomendaram para justificar o golpe,  mas fá-lo habilidosamente para que a mentira seja tida como verdade.
Ele sabe que:
 Na RTP e no 'Público' sabem tudo isto mas a narrativa que lhes mandam passar é outra.
Por isso Manuel Carvalho nem procura relativizar o seu discurso fraudulento. Fá-lo com a ligeireza (quase graciosidade...) de quem está a dizer uma evidência consensual que nem vale a pena explicar.
É triste, muito triste, que estejamos obrigados a uma tal "comunicação social".
Como defesa contra esta mentira (não como outra verdade absoluta mas como mais um elemento de análise crítica) podemos ler:

Sobre a OEA e as eleições na Bolívia

por CELAG | Tradução de Pedro Marin para a Revista Opera


O Centro Estratégico Latino-Americano de Geopolítica (CELAG) realizou um estudo detalhado do relatório da OEA “Análise das Eleições Gerais da Integridade Eleitoral no Estado Plurinacional da Bolívia, 20 de outubro de 2019 – Constatações Preliminares. Informe à Secretaría Geral“, com base em análises próprias e retomando as contribuições do documento “O que aconteceu na contagem de votos das eleições de 2019 na Bolívia? O papel da Missão de Observação Eleitoral da OEA“, preparada pelo Centro de Pesquisa Econômica e Política (CEPR).
As conclusões da análise permitem afirmar que o relatório preliminar da OEA não fornece nenhuma evidência que possa ser definitiva para provar a suposta “fraude” referida pelo Secretário-Geral, Luis Almagro, na reunião do Conselho Permanente realizada em 12 de novembro. Pelo contrário, em vez de cumprir uma auditoria eleitoral tecnicamente fundamentada, a OEA preparou um relatório questionável para induzir uma dedução falsa na opinião pública: que o aumento da diferença a favor de Evo Morales na etapa final da contagem teria expandido-se por causas fraudulentas e não pelas características sociopolíticas e dinâmicas do comportamento eleitoral que ocorrem entre o mundo rural e urbano da Bolívia.
Um antecedente a considerar é que, em 23 de outubro, antes do início da auditoria solicitada pelo Governo boliviano e com o cálculo oficial em andamento, a Missão Eleitoral da OEA emitiu um relatório preliminar no qual “recomendava”, sem qualquer tipo de fundamento técnico, a realização de um segundo turno eleitoral como a “melhor opção”.
A seguir, as principais conclusões:
Sobre a análise da interrupção do TREP (Transmissão de Resultados Eleitorais Preliminares). O relatório da OEA omite, como afirma o relatório do CEPR, a prática usual, anunciada e acordada entre as partes antes do processo eleitoral, que incluía o compromisso do Supremo Tribunal Eleitoral (TSE) de publicar dados preliminares obtidos a partir do sistema de transmissão rápida TREP com um número de votos verificados de 80% do total. Às 19h40 de 20 de outubro, quando a publicação dos resultados foi interrompida, a carga de dados atingiu 83,85% dos votos verificados. Como o mesmo relatório aponta, esse desempenho do TREP foi semelhante nos processos eleitorais bolivianos anteriores [1].
• Os gráficos do relatório da OEA sobre o sistema TREP não revelam nada, exceto o que já sabíamos, ou seja, que o carregamento de atas no sistema foi interrompido em 83,85% dos registros verificados e depois retomado. Enquanto isso, os gráficos sobre a relação a favor / contra Morales apenas sustentam uma conclusão óbvia: que, nas áreas carregadas no sistema tarde da noite – nas áreas rurais – o apoio de Morales é muito superior àquelas recebidas de outros locais, mais cedo.
• O relatório da OEA também apresenta declarações arbitrárias, sem base técnica, usando o termo “incomum” para caracterizar o comportamento das tendências no carregamento de dados: “Nos últimos 5% do cálculo, foram contabilizados 290.402 votos. Destes, Morales ganhou 175.670, ou seja, 60,5% dos votos, enquanto Mesa obteve apenas 69.199 votos, ou seja, 23,8%. Em outras palavras, nos últimos 5% dos votos, Morales aumenta a média de votos em 15% em comparação aos 95% anteriores.” Não é “incomum” que Morales tenha obtido porcentagens de apoio em torno de 60%, e ainda superiores, em algumas áreas do país e principalmente nas áreas rurais dos dois departamentos que foram carregados no sistema por último: Cochabamba e Oruro. Veja a esse respeito os resultados das eleições de 2014, nas quais nas cidades rurais o MAS obteve uma média de 84% dos votos, ou nas eleições de 2016, nas quais 71% votaram pelo “Sim” no referendo.
• A partir de um rigoroso exercício matemático, é perfeitamente possível que a projeção dos resultados do TREP a 100% resulte em uma diferença a favor de Morales acima de 10%, o que é derivado do fato de que as áreas de maior peso eleitoral do MAS eram as que estavam menos avançados na contagem. Supondo que de 16,15% dos votos que faltavam contar no momento da parada do TREP, um terço corresponderia a áreas urbanas, como argumentou o candidato Carlos Mesa, e dois terços corresponderiam à votação rural, e com a hipótese conservadora de que Morales tivesse obtido 60% de apoio nessas áreas, o resultado final seria 47,3% vs. 36,4%, ou seja, uma diferença de 10,9 pontos. Esse resultado é consistente com o que foi finalmente obtido do cálculo oficial.
• Como as projeções feitas pelo CEPR constataram:
    • “A contagem oficial de votos juridicamente vinculativa não parou por um período significativo, e a tendência nos resultados da contagem oficial é muito semelhante à tendência nos resultados da transmissão rápida”.
    • “Os resultados do TREP não são difíceis de justificar ou incomuns”, como aponta a OEA, mas o que ocorre é que “a brecha entre Morales e Mesa aumentou constantemente à medida que o processo de contagem progredia”.
    • “Os resultados parciais da transmissão rápida até o momento de sua interrupção preveem um resultado extremamente próximo dos resultados finais”
• Deve-se esclarecer que, embora a OEA concentre sua auditoria principalmente no sistema TREP, o único resultado vinculativo da legislação boliviana é o que emana da contagem oficial de votos. O sistema TREP, implementado pelo país a partir de 2016 por recomendação da OEA, tem caráter preliminar e não fornece resultados oficiais. É muito surpreendente que o relatório poucos e breves alusões à contagem oficial sem qualquer suporte técnico para endossar as declarações feitas.
• Por sua vez, de maneira pouco rigorosa, a OEA observa em seu relatório que: “É previsível presumir que, se houvesse mais tempo para processar mais documentação, seria encontrado um número ainda maior de irregularidades”, o que não pode constituir de forma alguma demonstração confiável da existência de tais irregularidades.
Sobre a análise de uma suposta falsificação de assinaturas nas atas do cálculo oficial. Os poucos parágrafos que o relatório da OEA dedica à análise desse ponto baseiam-se em uma amostra não representativa do total de atas. Observam-se apenas 333 atas (de 34.555), das quais 78 (0,22% do total) teriam irregularidades, que não são uma amostra aleatória do total, mas o contrário: constituem uma amostra enviesada por sua seleção. Como o relatório aponta: “Para formar esta amostra, foram selecionadas mesas nas quais o MAS obteve 99% dos votos e as mesas consecutivas, ou seja, as do mesmo centro de votação.” Qualquer auditoria rigorosa teria conduzido uma amostra do conjunto das atas para estabelecer uma conclusão estatisticamente relevante.
• Finalmente, como o relatório do CEPR nos lembra, é necessário enfatizar que existem outros mecanismos plenamente vigentes no sistema eleitoral boliviano que atuaram durante todo o processo para garantir a transparência das eleições:
    • 207.322 cidadãos bolivianos participaram como jurados de votação nesta eleição, à razão de seis para cada mesa eleitoral. Todos os jurados de votação devem assinar a ata de exame final.
    • Os delegados dos partidos políticos participam do exame e endossam o cálculo feito em cada uma das 34.555 mesas de voto.
    • Finalmente: as imagens dos registros de contagem estão disponíveis on-line para quem deseja confirmar que as informações nas fichas físicas correspondem às informações inseridas no sistema oficial de cálculo.

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 [1] (i) No referendo constitucional de 2016, o TSE realizou uma coletiva de imprensa às 18h15 do dia das eleições em que anunciou resultados preliminares com 81,2% das atas processadas. (ii) Por ocasião do referendo regional de 2016, o TSE publicou resultados preliminares às 19h30, com um nível de processamento entre 66,7 e 100% das atas, de acordo com cada jurisdição. (iii) Nas eleições judiciais de 2017, os resultados preliminares foram anunciados às 21h30, com 80% das atas processadas, endossadas na época pela Missão de Peritos Eleitorais da OEA.


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