Calem-se, por favor.

 


Não é possível responder à pandemia e  mobilizar os portugueses para a defesa da saúde e das vidas se não houver um mínimo de serenidade e confiança. A descrença, o alarmismo e a cacafonia de 'achismos' e 'opinismos' funcionam mais como agentes de confusão e como desresponsabilizadores do que contribuem para a consciencialização da opinião pública.

Obviamente não se pode pedir aos mass media que deixem de  dar conta da evolução da doença. Desde logo porque a obrigação dos jornalistas é procurar e divulgar informação mas também, infelizmente, porque os mass media andam num desvario de concorrência de audiências e de 'bons serviços' aos interesses dos negociantes da doença.

Mas certamente poder-se-á pedir à plêiade de especialistas,  comentadores, cientistas, conselheiros e outras destacadas figuras da inteligência nacional que se contenham um pouco e que não se deixem manobrar tão 'ingenuamente' pelo uso que deles fazem nos mass media.

Provavelmente é difícil resistir aos 'cinco minutos' de fama que as televisões e os jornais corporativos proporcionam. É legítimo que cada um considere que a sua douta opinião sobreleva tudo o mais que sobre a matéria é dito e que sem ela não iremos conseguir ultrapassar dificuldades. 

Evidentemente que para alguns a pandemia oferece a boa oportunidade de se fazerem destacar com tudo o que isso significa para a sua projeção pessoal e para as suas carreiras. Compreende-se...

Mas, por favor, entendam o cansaço que tem provocado a constante rotatividade de personagens importantes a entrarem-nos pela vida a dentro  cheios de distintas certezas, críticas e 'orientações'.

Nestes meses aprendemos que entre especialistas, sábios e opinadores há certezas para todos os gostos. Se tem havido coisa boa é poder-se testemunhar quão fácil lhes é mudar de 'evidências' que num dia justificam o contrário do que, os mesmos, hão-de defender convictamente uns dias depois.

Naturalmente em ciência falar em 'consenso' só pode ser sinal de fraude. A ciência é, por definição, a dúvida, o provisório e a negação do pressuposto. Mas a ciência também é prudente, contida e desejavelmente discreta.

Querer usar a ciência ou o conhecimento académico para espetáculos quotidianos nos telejornais e nas páginas do 'Expresso' ou do 'Correio da Manhã' só pode dar mau resultado. Sobretudo provoca  saturação,  descrédito e uma enorme irritação perante tanta 'sabedoria'.

Pensem, estudem, trabalhem, opinem e proponham mas façam-no fora da praça pública. Não continuem a correr para o telejornal mais próximo de cada vez que lhes ocorra um pensamento interessante, não se ocupem tão afincadamente em descobrir uma qualquer originalidade para conseguirem meia página, com fotografia, no 'Público'.

É verdade que criticar é indispensável e, em princípio, pode ser útil. É mais que certo que se a crítica for dirigida sistematicamente contra quem tem que conduzir todo o complexo processo de defesa da saúde ou se for no sentido de lançar dúvidas e descrédito sobre o Serviço Nacional de Saúde então, os 'críticos' têm protagonismo garantido nos mass media.

Mas para esse criticismo já há profissionais encartados como Marques Mendes, Paulo Portas e tantos outros. Não é preciso que gente séria e com boas intenções lhes faça concorrência.

Sejamos claros: num tempo em que a luta contra a infeção é tão difícil, volátil e cheia de percalços é indispensável haver coesão na direção e confiança dos cidadãos. Agir conscientemente ou por ingenuidade contra isso é mau  e conduz necessariamente a dois resultados indesejáveis. 

O primeiro, que os decisores políticos, a quem hoje tem de caber a principal responsabilidade, sejam obrigados a deixar de ouvir especialistas, académicos e outros críticos sob pena de o país cair em total inoperacionalidade. 

O segundo o de a ciência e o conhecimento especializado ficar em compreensível descrédito junto dos portugueses cansados de tanto desvario opinatinativo.

Portugal não precisa neste momento de mais 'comités' de especialistas nem de mais académico em compita. Precisa, sim, de trabalho empenhado, constante, apoiado e reconhecido de todos aqueles que, aos vários níveis, estão a 'dar o corpo ao manifesto' para vencer  a pandemia.

Depois virá o tempo dos balanços, 'das facas longas', dos sábios e dos 'interesses'. 

Agora, calem-se, por favor.



 



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