Refletir para agir

 


As eleições presidenciais de hoje terminaram sem grandes surpresas. 

Os resultados exigem de todos os democratas uma leitura profunda e ponderada muito para lá das interpretações taticistas desta primeira noite. Uma leitura que se centre em linhas estruturantes e não apenas nas circunstâncias conjunturais e nos enviezamentos que as forças dominantes procuram promover.

Todavia algumas notas parecem possíveis de referir.  

Marcelo Rebelo de Sousa foi eleito à primeira volta com uma elevada percentagem mas com menos votos do que pretendia necessário para a sua ambição de reerguer a direita partidária. `

O CDS, O PSD e o PS apressaram-se a 'tutelar' a vitória de MRS. Olhando para os votos que a extrema direita foi buscar ao CDS e ao PSD bem como aos resultados que as esquerdas obtiveram é credível que uma parte muito significativa dos votos em MRS tenha vindo de eleitores do PS. 

Não se pode ainda antever qual o objetivo e a consequência que a opção de António Costa terá. Servirá para neutralizar a autoproclamação de uma 'maioria presidencial' de direita? Servirá para enfraquecer a esquerda no PS, quebrar pontes progressistas  e abrir a próximos entendimentos do Partido com a direita? 

As esquerdas impediram a 'vitória simbólica' que a extrema direita reivindicaria caso tivesse ficado em segundo lugar.  Entretanto há quem tenha dúvidas sobre se o 'voto útil' que funcionou significativamente a favor de Ana Gomes se constitui como um voto seguro  para as mudanças políticas que são indispensáveis para barrar o crescimento das direitas.

É evidente que a direita económica tem várias preocupações pela frente uma das quais é a reorganização da direita política com capacidade bastante para defender eficazmente os seus interesses. Rui Rio apressou-se nesta noite a propôr, para isso, a reconstrução do 'centrão' enquanto outros apostam na criação de um bloco das direitas de matriz mais populista. Os resultados eleitorais não parecem ter ajudado muito a direita económica a superar a crise das direitas políticas para além de darem a MRS um papel determinante nesse processo.

Uma vez mais a campanha eleitoral evidenciou iniludivelmente que os mass media estão dominados pela direita. A noite eleitoral, em todos os canais televisivos, foi um surreal exercício de construção de realidades virtuais exclusivamente orientado para a manipulação dos portugueses conforme as várias sensibilidades dos comentadores e 'jornalistas' todos (com uma simbólica exceção) ao serviço da direita. Ver a TVI a projetar Mayan em quarto lugar e Paulo Portas a destacá-lo como um dos 'dois vencedores da noite' diz bem do atual mundo comunicacional português sobretudo quando registamos que aquele pouco mais votos teve do que Vitorino Silva. 

O facto de a comunicação social estar praticamente toda sob o domínio da direita económica e despudoradamente  manipular a favor da direita política é um dos mais graves problemas da democracia portuguesa.

Entretanto a História e a Política têm dinâmicas que decorrem de razões muito mais profundas e poderosas do que os jogos de influência eleitoral e do manobrismo politqueiro que constituem a 'espuma dos dias' com que os mass media nos entretêm e condicionam. 

É nesse plano que tudo está em aberto e pouco se modificou com estas eleições.





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