Uma comunicação social assassina

 


Deverá o próximo decreto presidencial sobre o estado de emergência incluir normas orientadoras e restritivas para a comunicação social?

Obviamente que não! A liberdade de expressão, nomeadamente a liberdade de imprensa, constitui um bem essencial que em nenhuma circunstância deve ser alienado. Os profissionais da comunicação social prestam um difícil serviço à comunidade que merece ser respeitado e valorizado. 

Mesmo nas mais duras circunstâncias há que resistir a tentações censórias e de condicionamento do trabalho dos jornalistas.

Assim sendo como é que se limitam os danos que o atual clima de terrorismo informativo está a impor aos portugueses? Como é que se contribui para reinstalar alguma seriedade informativa no destrambelhamento comunicacional que domina os mass media?

É que a atuação  presentemente assumida pelos órgãos de comunicação corporativos além do pânico que permanentemente instiga e dos consequentes prejuízos que causa à saúde mental dos cidadãos está a contribuir objetivamente para a desorientação e desresponsabilização social num plano que, iniludivelmente, acentua a perda de vidas.

Muitos fatores contribuíram para que se chegasse a este ponto. O resvalar para a constante manipulação da opinião pública, para o sensacionalismo desbragado, para a espetacularização de toda a realidade são processos que decorrem diretamente dos interesses e dos ideários dos patrões dos órgão de comunicação acentuados pela promoção que fazem da precariedade laboral e da mediocridade deontológica.

Perante a situação pandémica que se está a viver as consequências são mais graves e estão a atingir as raias do insuportável.

Seria possível travar uma qualquer guerra com toda a comunicação social a agir militantemente para pôr, hora a hora, em causa os objetivos, a estratégia, o comando, as orientações, a coordenação e as atuações dos envolvidos nos vários escalões da Defesa? A jogar, a todo o instante, com as ânsias de protagonismos individuais para semear desorientação, dividir esforços  e acicatar conflitualidades nas forças armadas? A inculcar nos cidadãos, por vezes às claras mas quase sempre de forma subliminar, a desconfiança, a descrença e a hostilidade face ao esforço e pesar que a guerra acarreta? 

Tal como uma guerra nessas condições seria insuportável também a atual batalha contra a pandemia está a ser constantemente sabotada por uma comunicação social que, além de outros atributos, evidencia níveis de irresponsabilidade inimagináveis.

O negócio das audiências, a subordinação aos interesses dos grandes grupos económicos,  o enformamento por padrões de referência cada vez mais medíocres e populistas não servem para 'justificar' a onda de terror que os mass media estão a arquitetar na opinião pública.

É verdade que neste panorama surreal há exceções e que ainda aparecem algumas peças jornalísticas dignas, que honram quem as produz e nos fazem recordar a elevada dignidade da profissão. Mas são exceções!

O que se constata nos media 24 horas por dia é (i) a prevalência do criticismo descontrolado e da desconfiança como a única atitude aceitável; (ii) a generalização e teatralização irresponsável de 'casos' pontuais  que se querem sempre o mais dramáticos possível; (iii) a espetacularização e linearização de toda uma realidade que é difícil, contraditória e complexa; (iv) a manipulação de opiniões individuais,  sejam estas  de populares, de profissionais ou de efémeros 'especialistas', sempre na tentativa de acentuar o medo, a descrença e a divisão; (v) a arrogância a raiar a má educação de demasiados jornalistas perante todos aqueles que não se conformem com as suas 'verdades' pré concebidas; (vi) a sobrevalorização ou descredibilização de pontos de vista diversos por forma a construir  e popularizar ideias únicas formatadas pelo querer dos decisores comunicacionais; (vii) a utilização de habilidades e truques para desvirtuar as mensagens,  ludibriar a perceção dos conteúdos e condicionar a leitura das realidades; (viii) a competição desenfreada entre os vários órgãos de comunicação na busca do sensacionalismo, do 'popularucho' e do simplismo mais fácil de vender às massas.

Tudo isto não é novo. Há muito que o processo de degradação comunicacional ocorre perante a passividade dos decisores democraticamente escolhidos pelos portugueses e com a evidente inoperância das entidades ditas 'reguladoras'  bem como das que deveriam zelar pela deontologia informativa.

Por ora, no quadro de 'guerra' em que estamos a viver,  vai-nos valendo a determinação do 'Estado-Maior', a paciência dos generais e, sobretudo, o bom senso e empenho dos soldados.

Bem hajam os trabalhadores da saúde que estão hora a hora na 'linha da frente' e ainda têm a paciência de desmontar mentiras, acalmar alarmismos, explicar dificuldades, mobilizar confiança e suscitar responsabilidades face a uns media nevróticos e obcecados pelas suas tristes batalhas de audiência para vender anúncios.

Até quando?!




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