Tristes seres em tempos difíceis.

 


A atenção crítica ao exercício do Poder é não apenas um direito cívico como uma indispensabilidade humana. O seguidismo amorfo e o incondicionalismo interesseiro são dos piores traços comportamentais e dos mais prejudiciais à nossa vida em sociedade.

Quando as dificuldades são maiores é mais fácil e até compreensível que o exercício da critica tenda a acentuar-se e a exprimir-se com maior contundência.

Mas há situações que exigem acrescido sentido de responsabilidade  e uma ponderada contenção.

É, obviamente, o caso da atual grave situação pandémica. A crise sanitária, económica e social em curso é uma realidade excecional, como as atuais gerações de portugueses nunca conheceram,  que reclama uma resposta difícil, permanente e perseverante.

Todos aqueles a quem cabe a intervenção mais direta e constante estão confrontados agora com uma experiência que seguramente nunca desejaram e para a qual não existe um receituário prévio de intervenção. Não lhes resta outra solução senão agirem o melhor que souberem e, sobretudo, que puderem, com continuidade, sem desfalecimentos, desânimos ou desistências. 

É assim para o pessoal de saúde dedicado em permanência a salvar vidas e é também assim para os responsáveis pelo funcionamento de toda a complexa estrutura de resposta à crise desde os governantes aos técnicos, dos cientistas aos funcionários. As pessoas que estão nesta frente têm que responder ás dificuldades operacionais, aos bloqueamentos estruturais e às inevitáveis contrariedades mas têm também que 'fazer das tripas coração' e ultrapassar constrangimentos pessoais, cansaços, quebras anímicas ou resistências psicológicas.

É fácil compreender que, neste quadro, semear descrenças, alarmismos, crispações e conflitualidades só pode ter péssimas consequências. Tal irresponsabilidade tem como inevitável resultado agravar os problemas e a capacidade de lhes responder.

É por isso que é  inaceitável o comportamento que a maioria dos mass media tem tido. É por isso que é difícil compreender o comportamento de alguns que, deslumbrados pelo protagonismo que lhes é facultado, ocupam-se mais em criticar e em, objetivamente, promover a desconfiança do que em contribuir serenamente para solucionar insuficiências e ultrapassar dificuldades.

Pior ainda é o comportamento daqueles que aproveitam a gravidade da situação para colherem benefícios políticos e, ou, pessoais. É triste ver como alguns quadros políticos não resistem ao aproveitamento da crise para capitalizarem simpatias e apoios no plano partidário.

Mas há atitudes que ultrapassam o inimaginável. A atuação dos dois membros do PS, Adalberto Campos Fernandes e Maria de Belém  é um doloroso exemplo de quando a falta de ética se associa com a mesquinhez vingativa e ambiciosa.



As suas recentes intervenções, públicas e amplamente noticiadas, de ataque à ministra da Saúde corporizam o que há de pior na vida política e social: o individualismo exacerbado, a falta de solidariedade, o oportunismo político ou, dito de forma mais prosaica, a sacanagem do vale tudo.

Sabia-se que ambos estes 'ilustres' dirigentes do PS tinham contas para ajustar com o Governo nomeadamente com a sua ministra da Saúde. António Costa tinha-lhes tirado o tapete quando se preparavam para fazer passar uma Lei de Bases da Saúde feita à medida dos interesses mercantis dos negociantes da doença.

Um, Adalberto Campos Fernandes, enquanto ministro e outra, Maria de Belém,  a presidir a uma Comissão criada para o efeito, estiveram à beira de conseguir aprovar uma Lei que promoveria o descalabro final do SNS e abriria totalmente as portas aos chorudos negócios dos quatro grandes grupos financeiros que lucram Milhões com a doença.

António Costa parou, no limite, a manobra que já envolvia Marcelo Rebelo de Sousa. Desfez-se, sem cerimónias, do ministro Adalberto, nomeou Marta Temido e, só assim, apesar de algumas resistências e hesitações, foi possível aprovar uma nova Lei de Bases da Saúde  que, no essencial respeita o legado de António Arnaut e possibilita salvar o SNS.

Maria de Belém e Adalberto Campos Fernandes que logo nos primeiros dias em que a nova ministra assumiu funções a invetivaram em reuniões no PS, desde então tudo têm feito para descredibilizar e minar a sua atuação. Usando a sua vasta rede de influências, conspirando nas catacumbas do PS ou insinuando críticas no espaço público os 'destacados socialistas' ocuparam-se nos últimos três anos a alimentar uma campanha insidiosa, sobretudo contra Marta Temido porque lhes é mais difícil afrontarem diretamente António Costa.

O momento mais grave da crise nacional pareceu-lhes o tempo oportuno para acentuarem o ataque. Anteveem provavelmente que face às dificuldades sanitárias atuais ser-lhes-á mais fácil cumprirem as suas vinganças mesquinhas e recuperarem a influência partidária que perderam.

Talvez até consigam mas isso não branqueia o seu vergonhoso comportamento nem a pequenez da sua dimensão ética. Comprovam apenas serem mais um triste exemplo do que há de pior na vida política e social do nosso país.




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